A emigração foi um dos muitos rostos do regime derrubado no dia 25 de Abril de 1974.
Poucos meses depois dessa data, o jornalista Luís Filipe Costa apresentou um programa sobre as causas desses movimentos migratórios, na sua relação com o Estado Novo, e as consequências sociais, demográficas e económicas para o país.
Os que partiam
Os que ficavam
na cidade |
no campo |
E, como dizia a canção, "Não foi por vontade nem por gosto"...
José Mário Branco
Vou andando por terras de França
Pela viela da esperança
Sempre de mudança
Tirando o meu salário
Enquanto o fidalgo enche a pança
O Zé Povinho não descansa
Há sempre uma França
Brasil do operário
Não foi por vontade nem por gosto
Que deixei a minha terra
Entre a uva e o mosto
Fica sempre tudo neste pé
Vamos indo por terras de França
Nossa miragem de abastança
Sempre de mudança
Roendo a nossa grade
Quando vai o gado pra matança
Ao cabo da boa-esperança
Bolas pra bonança
E viva a tempestade
Não foi por vontade nem por gosto
Vamos indo por terras de França
Com a pobreza na lembrança
Sempre de mudança
Com olhos espantados
Canta o galo e a governança
A tesourinha e a finança
E os cães de faiança
Ladrando a finados
Não foi por vontade nem por gosto
Vamos indo por terras de França
Trocando a sorte pela chança
Sempre de mudança
Suando o pé de meia
Com a alocação e a segurança
Com sindicato e com vacança
Há sempre uma França
Numa folha de peia
Não foi por vontade nem por gosto
A história de um dos símbolos de 25 de Abril
Celeste dos Cravos
Da democracia nasceu o Serviço Nacional de Saúde
O direito universal à saúde
A importância do 25 de Abril de 1974 na vida das mulheres portugueses
contada pela escritora Maria Velho da Costa
REVOLUÇÃO
Elas fizeram greves de braços caídos. Elas brigaram em casa para ir ao sindicato e à junta. Elas gritaram à vizinha que era fascista. Elas souberam dizer salário igual e creches e cantinas. Elas vieram para a rua de encarnado. Elas foram pedir para ali uma estrada de alcatrão e canos de água. Elas gritaram muito. Elas encheram as ruas de cravos. Elas disseram à mãe e à sogra que isso era dantes. Elas trouxeram alento e sopa aos quartéis e à rua. Elas foram para as portas de armas com os filhos ao colo. Elas ouviram falar de uma grande mudança que ia entrar pelas casas. Elas choraram no cais agarradas aos filhos que vinham da guerra. Elas choraram de ver o pai a guerrear com o filho. Elas tiveram medo e foram e não foram. Elas aprenderam a mexer nos livros de contas e nas alfaias das herdades abandonadas. Elas dobraram em quatro um papel que levava dentro uma cruzinha laboriosa. Elas sentaram-se a falar à roda de uma mesa a ver como podia ser sem os patrões. Elas levantaram o braço nas grandes assembleias. Elas costuraram bandeiras e bordaram a fio amarelo pequenas foices e martelos. Elas disseram à mãe, segure-me aqui os cachopos, senhora, que a gente vai de camioneta a Lisboa dizer-lhes como é. Elas vieram dos arrabaldes com o fogão à cabeça ocupar uma parte de casa fechada. Elas estenderam roupa a cantar, com as armas que temos na mão. Elas diziam tu às pessoas com estudos e aos outros homens. Elas iam e não sabiam para aonde, mas que iam. Elas acendem o lume. Elas cortam o pão e aquecem o café esfriado. São elas que acordam pela manhã as bestas, os homens e as crianças adormecidas.
Dezembro 1975
Maria Velho da Costa, Cravo. Lisboa: Moraes Editores, 1976.
E Depois de Abril - Desigualdades (RTP)
Reportagem sobre as desigualdades entre homens e mulheres, no trabalho, antes e depois do 25 de Abril de 1974.
E para os mais novos ou ... mais apressados
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