"A Revolução Republicana: antecedentes, peripécias e significado.
O acto fundador do regime republicano e do Portugal moderno. Os seus protagonistas e acção.
O ideal republicano. Os símbolos da República."
A descobrir na exposição das BLX, de 1 a 7 de outubro, na tua biblioteca.
Joaquim Cesário Verde nasce, em Lisboa, a 25 de Fevereiro de 1855. O seu pai possui uma loja na capital e uma quinta em Linda-a-Pastora, o que leva o jovem a crescer entre os espaços citadino e rural.
Cesário desenvolve a sua verve poética no intervalo da actividade comercial que exerce no negócio familiar. Em vida, as suas publicações raramente colhem crítica favorável. Sucumbindo à doença que vitimara os seus irmãos, morre, tuberculoso, aos 31 anos.
Cesário Verde deixa-nos um retrato das últimas décadas da Lisboa oitocentista e da realidade do meio rural, num mundo votado à extinção perante o avanço da industrialização.
Poema declamado por Luís Gaspar (www.estudioraposa.com), conforme apresentado no Miradouro de Poesia existente no Espaço da Presidência da República no Second Life.
CONTRARIEDADES
Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.
Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.
Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.
Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve conta à botica!
Mal ganha para sopas...
O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.
Que mau humor! Rasguei uma epopeia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais uma redacção, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.
A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa
Vale um desdém solene.
Com raras excepções, merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e a paz pela calçada abaixo,
Um sol-e-dó. Chovisca. O populacho
Diverte-se na lama.
Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.
Receiam que o assinante ingénuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.
Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua "coterie";
Ea mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.
A adulação repugna aos sentimento finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exactos,
Os meus alexandrinos...
E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe humedece as casas,
E fina-se ao desprezo!
Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!
Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?
Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a "réclame", a intriga, o anúncio, a "blague",
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras...
E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe a luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!
Adaptação por Noé Touraldo; música de Amontron; com Pedro Ribeiro e Ana Machado - 2009
Andresen, Sophia de Mello Breyner. Quatre poetes portugais: Camões, Cesário Verde, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, Paris: Centre Cultural Portugais, 1979
Atkinson, Dorothy M.. Notas sobre a estilystica de Cesário Verde, Lisboa: Tip. da Editorial Império, 1968
Buescu, Helena Carvalhão; Morão, Paula. Cesário Verde : visões de artista, Porto: Campo das Letras, 2007.
Continuação na Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas.