sábado, 26 de abril de 2014

40 anos - 25 de Abril


A preto e branco, qual retrato da uniformidade cinzenta que se impunha ao povo, algumas vozes teimavam em reclamar o direito à liberdade.

Acordai
Canção Heróica*


O maestro e compositor Fernando Lopes-Graça a dirigir o Coro da Academia dos Amadores de Música © Câmara Municipal de Cascais / Museu da Música Portuguesa /
Fundo Fernando Lopes-Graça.
Letra: José Gomes Ferreira


Acordai

Acordai
Homens que dormis
A embalar a dor
dos silêncios vis!
Vinde, no clamor
Das almas viris,
Arrancar a flor
Que dorme na raiz!

Acordai,
Raios e tufões
Que dormis no ar
E nas multidões!
Vinde incendiar
De astros e canções
As pedras e o mar,
O mundo e os corações!

Acordai!
Acendei,
De almas e de sóis
Este mar sem cais,
Nem luz de faróis!
E acordai, depois
Das lutas finais,
Os nossos heróis
Que dormem nos covais

Acordai!
  

*As músicas das Canções Heróicas foram compostas por Fernando Lopes-Graça  e destinavam-se a encorajar a luta contra a opressão do regime fascista.
Para ler mais sobre estas canções, clica aqui.




Canções Heróicas

«Livre»


Poema de Carlos de Oliveira
Musica de Fernando Lopes Graça
Arranjo e direção musical de Jorge Salgueiro


Livre

Solo
Não há machado que corte
a raiz ao pensamento

Coro
não há morte para o vento
não há morte.

Solo
Se ao morrer o coração
morresse a luz que lhe é querida,

Coro
sem razão seria a vida,
sem razão.

Solo
Nada apaga a luz que vive
num amor, num pensamento,

Coro
porque é livre como o vento,
porque é livre.








                                                         
Para mais informações sobre o 25 de Abril, podes consultar o Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra.



Animações do DVD "25 de Abril, 32 Anos, 32 Perguntas".







quarta-feira, 23 de abril de 2014

As escolas de Sintra param para ler


No âmbito da comemoração do Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, as escolas do concelho de Sintra param para ler, hoje, 23 de abril, das 9h30 às 9h45 e das 14h45 às 15h00.

A ESMT convida a comunidade escolar a aderir a esta iniciativa, aproveitando a oportunidade para comemorar a Revolução de Abril, com a leitura de alguns poetas que cantaram a liberdade e a resistência.




                               

QUEM A TEM…

Não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.   
       
Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.

Trocaram tudo em maldade,
é quase um crime viver.
Mas, embora escondam tudo
me queiram cego e mudo,
não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.

Jorge de Sena, 1956


AR LIVRE

Ar livre, que não respiro!
Ou são pela asfixia?
Miséria de cobardia
Que não arromba a janela
Da sala onde a fantasia
Estiola e fica amarela!

Ar livre, digo-vos eu!
Ou estamos nalgum museu
De manequins de cartão?
Abaixo! E ninguém se importe!
Antes o caos que a morte...
De par em par, pois então?!

Ar livre! Correntes de ar
Por toda a casa empestada!
(Vendavais na terra inteira,
A própria dor arejada,
- E nós nesta borralheira
De estufa calafetada!)

Ar livre! Que ninguém canta
Com a corda na garganta,
Tolhido da inspiração!
Ar livre, como se tem
Fora do ventre da mãe
Desligado do cordão!

Ar livre, sem restrições!
Ou há pulmões,
Ou não há!
Fechem as outras riquezas,
Mas tenham fartas as mesas
Do ar que a vida nos dá!
            
Miguel Torga, Cântico do Homem, 1950



TROVA DO VENTO QUE PASSA 
Clicar aqui para ouvir o poema cantado por Adriano Correia de Oliveira
  

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
    
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
   
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
   
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
   
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
   
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
   
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
   
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
   
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
   
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
   
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
   
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
   
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
   
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
   
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
   
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
   

Manuel Alegre, Praça da Canção, 1965.




O POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO

O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis

Vai ter olhos onde ninguém os veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
             (assim assim)
escriturários
              (muitos)
intelectuais
              (o que se sabe)
com certeza a deles
a tua voz talvez
talvez a minha

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo

(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo             .
que é justamente
o que o medo quer)
          
                
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos

Sim
a ratos
              
Alexandre O’Neill, Abandono Vigiado, 1960





NÃO HÁ MACHADO QUE CORTE 

Clicar aqui para ouvir o poema cantado por  Manuel Freire




Não há machado que corte 
a raíz ao pensamento) [bis] 
(não há morte para o vento 
não há morte) [bis] 

Se ao morrer o coração 
morresse a luz que lhe é querida 
sem razão seria a vida 
sem razão 

Nada apaga a luz que vive 
num amor num pensamento 
porque é livre como o vento 
porque é livre.

Carlos Oliveira




CANTIGA DE ABRIL

Às Forças Armadas e ao povo de Portugal

«Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade»
J. de S.



Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinquenta anos
reinaram neste pais,
e conta de tantos danos,
de tantos crimes e enganos,
chegava até à raiz.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Tantos morreram sem ver
o dia do despertar!
Tantos sem poder saber
com que letras escrever,
com que palavras gritar!
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Essa paz de cemitério
toda prisão ou censura,
e o poder feito galdério.
sem limite e sem cautério,
todo embófia e sinecura.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esses ricos sem vergonha,
esses pobres sem futuro,
essa emigração medonha,
e a tristeza uma peçonha
envenenando o ar puro.
Qual a cor da liberdade?
É verde. verde e vermelha.
Essas guerras de além-mar
gastando as armas e a gente,
esse morrer e matar
sem sinal de se acabar
por politica demente.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esse perder-se no mundo
o nome de Portugal,
essa amargura sem fundo,
só miséria sem segundo,
só desespero fatal.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinquenta anos
durou esta eternidade,
numa sombra de gusanos
e em negócios de ciganos,
entre mentira e maldade.
Qual a cor da liberdade?
E verde, verde e vermelha.
Saem tanques para a rua,
sai o povo logo atrás:
estala enfim altiva e nua,
com força que não recua,
a verdade mais veraz.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
                     26-28(?)/4/1974
                    
 Jorge de Sena, in "40 anos de servidão"



25 de Abril

Esta é a madrugada que eu esperava 
O dia inicial inteiro e limpo 
Onde emergimos da noite e do silêncio 
E livres habitamos a substância do tempo 

Sophia de Mello Breyner Andresen




sexta-feira, 18 de abril de 2014

Exposição "A Raia e a Guerra Civil de Espanha"


"Nas aldeias e vilas da raia, o conflito fratricida foi intensamente vivido pelas ligações seculares à fronteira, à vinda dos refugiados e também pelas ideologias em disputa."

Quando se comemoram os 40 anos do 25 de Abril, recordemos a luta por uma mesma causa no país irmão.

Na biblioteca, de 23 de abril a 16 de maio de 2014.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Semana da Leitura - momentos a recordar


LEITURAS PARTILHADAS
 Encontros programados entre turmas do 3.º ciclo e do ensino secundário 



 Aqui, comungaram as vozes para cantar 8 Séculos de Língua Portuguesa.

 



 Ergueram-se para evocar a diáspora lusitana. 




Procurando, descobrindo sentidos.




Unindo os esforços para transmitir emoções.




E partilhar o desejo de sonhar.





LEITURAS PARTILHADAS POR:





ATELIER DE ILUSTRAÇÃO 

Esta foi também a semana em que a turma 8º F descobriu o trabalho da ilustradora Ana Sofia Gonçalves, no atelier "No tempo em que os animais falavam".










Por essa ocasião, os alunos encetaram a sua própria conceção de animais fantásticos, orientados pela artista plástica e, mais tarde, pelas professores Lurdes Rolo e Mª Henrique. 







Ficamos a aguardar ansiosamente a galeria destes retratos habitados por um sopro criativo.